terça-feira, 26 de novembro de 2013

Capítulo X


Cléo conduziu Demi à enorme biblioteca da mansão, onde a família tomava drinques antes do jantar. Era uma sala belíssima repleta de estantes, quadros e objetos de arte. Em frente à imponente lareira que dominava a parede oposta à porta de entrada, estavam Joseph e o rapaz que acompanhara Cléo no casamento de Wilmer. O pobre Hugh, com certeza. O sr. Jonas preparava um drinque no bar localizado num canto e sua mulher, sentada num sofá ali perto, bebericava um dry martíni.
Demi não sabia reconhecer uma roupa à primeira vista, mas podia ter certeza de uma coisa. Seja lá quem tivesse desenhado o vestido que a mãe de Joseph usava, tinha um bom gosto fenomenal. E uma conta bancária mais fenomenal ainda, é claro. Era o tipo da roupa que devia custar milhares de dólares.
Joseph sorriu ao vê-la entrar e aproximou-se dela, com o braço estendido.
— Venha, minha querida. Gostaria de apresentá-la aos meus pais.
E foi naquele momento que ela se deu conta do que seu coração já sabia há muito tempo.
Tinha se apaixonado por Joseph Jonas. Exatamente o que Miley a havia aconselhado a não fazer! De repente, a biblioteca pareceu girar à sua volta.
A voz da sra. Jonas a trouxe de volta à realidade.
— Que bom que veio, Demi. Venha, sente-se aqui do meu lado. Quero descobrir por que nunca nos falamos antes, já que Joseph me contou que frequenta nossa casa há anos.
Ela parecia simpática. Muito simpática, até. Completamente diferente da filha. A mãe de Joseph não parecia nem um pouco esnobe.
Enquanto conversava com ela, Demi tentava compreender o que se passara dentro de sua cabeça... e de seu coração. O que Joseph fizera com ela? Tudo bem que o desejasse com loucura. Qualquer mulher que tivesse um pingo de sangue nas veias desejaria um homem charmoso e atraente como ele. Mas de onde viera aquele amor maluco e sem sentido?
Não importava. A única coisa que interessava no momento era que ele não sentia a mesma coisa. Mais uma vez, sua vida pessoal iria sofrer um baque. Novamente, o fracasso. A dor.
O que Miley havia dito outro dia? Que Joseph era um homem inesquecível. Era aquilo mesmo. Riscar Wilmer da memória era uma coisa. Fazer o mesmo com Joseph Jonas era algo completamente impossível. Olhou disfarçadamente para ele, analisando de maneira discreta aquela figura envolvente. Como alguém nesse mundo conseguia ser assim tão perfeito? Não era justo!
A sra. Jonas estava lhe dizendo alguma coisa e ela forçou-se a prestar atenção em suas palavras.
— Joseph me disse que você trabalha numa agência de publicidade e que ocupa um cargo de enorme responsabilidade. Você deve ser muito inteligente!
— Mais do que inteligente, mamãe — disse ele aproximando-se de ambas, entregando um copo de champanhe a Demi. — Ela é um verdadeiro gênio!
Demi sentiu uma pontada no coração. O que seria de sua vida no momento em que Joseph se cansasse dela e partisse para novas aventuras? Será que conseguiria suportar tanta dor?
Bem, como não houvesse nada que pudesse fazer a respeito naquele exato momento, ela continuou ali, sentada, sorrindo e sorrindo. Sorrindo tanto que sua boca até começou a doer.
Ao contrário do que tinha imaginado, percebeu, nas horas que se seguiram, que o sr. e a sra. Jonas eram pessoas extremamente simpáticas, além de excelentes pais. Que diferença de sua própria família...
— Meu querido menino vem realizando um trabalho fantástico nas empresas da família — comentou o sr. Jonas na hora da sobremesa. Ele era um homem atraente, com o rosto bronzeado, falava de horas passadas em seu iate ou à beira da piscina. — Graças a Deus, vou poder me aposentar com toda a tranquilidade! Tudo que ele precisa agora é encontrar a mulher certa e aí eu ficarei completamente feliz!
Todos à mesa voltaram os olhos para Joseph, que quase engasgou com a mousse de chocolate que havia acabado de pôr na boca.
— Tudo bem, tudo bem, eu sei que não devia ter tocado nessa palavra tão controversa começada com a letra C — continuou o sr. Jonas, com um sorriso nos lábios —, mas eu não seria um pai normal se não quisesse ver meu filho feliz, ao lado de uma pessoa muito especial. O que você acha disso, Demi? Joseph me contou que vocês são amigos há mais de dez anos, portanto tenho certeza de que não vai se incomodar com a minha pergunta. Você não acha que já está mais do que na hora de ele se casar?
Agora, todos os olhares se voltaram para a própria Demi. Ela esperou que as batidas do seu coração diminuíssem um pouco, então respondeu:
— Eu acho, sr. Jonas, que Joseph vai começar a pensar em casamento e em filhos quando a hora certa chegar. Ele sempre soube o que quer da vida e nunca teve problemas em atingir seus objetivos. Tenho certeza de que, no momento apropriado, ele vai convencer uma linda garota a ser sua mulher e mãe de seus filhos.
— Muito bem dito! — exclamou o sr. Jonas. — E você está coberta de razão. Acho que eu deveria ter mais fé no meu menino!
— "O seu menino" — disse Joseph — está sentado aqui, bem à sua frente, e pode falar por si próprio!
— Então fale — desafiou seu pai. — Conte-nos qual é seu ponto de vista a esse respeito.
— Minha visão de casamento não deixa de ser um reflexo pelo qual estamos aqui hoje reunidos. — Ele se levantou e apanhou uma taça de vinho. Uma das muitas que tinha esvaziado durante o jantar, Demi bem notou. — Gostaria de fazer um brinde que ilustraria meus sentimentos no que diz respeito a esse assunto.
Ergueu sua taça e continuou:
— A meus pais maravilhosos, no dia de seu quadragésimo aniversário de casamento. Vocês são o exemplo de como uma união deveria ser. Uma parceria baseada no amor, respeito e objetivos mútuos. Até não encontrar tudo isso numa mulher, não ousarei entrar nesta complicada relação. Seria um verdadeiro desastre. Mas isso não me impede de admirar um homem que teve a sorte de encontrar sua alma gêmea e que teve o bom senso de lhe demonstrar seu amor durante todos os dias de sua vida. Ao meu pai, Richard, à minha linda e adorável mãe, Marion!
Demi olhou para Joseph desapontada com aquelas palavras. O que ele dissera? Que até não encontrar a mulher certa, não entraria numa união tão complicada e cheia de problemas. O recado era mais do que claro. Ela própria não era a mulher certa para ele.
Recostou-se na cadeira, sentindo raiva dele. Joseph não a queria como esposa. Ela não servia para ser a futura sra. Jonas. Bem, grande novidade. Estava cansada de saber daquilo. Quando, e se, ele um dia subisse ao altar, o faria com uma mulher do seu nível. Uma linda milionária do tipo de Daniella Baker.
De repente, toda a noite pareceu perder sua graça.
— Agora, eu gostaria de fazer outro brinde — ele estava dizendo.
Demi fez o possível para se concentrar no momento e não na tragédia pessoal que teria de enfrentar em breve.
— A Hugh, que tem de aguentar o mau humor de minha irmã Cléo!
Todos caíram na risada. Foi naquele momento que Demi desconfiou que talvez Joseph estivesse um pouco embriagado. Sua mãe devia ter percebido a mesma coisa, já que se levantou da mesa e sugeriu que fosse tomar café na biblioteca.
Logo após, o sr. e a sra. Jonas se retiraram para o quarto e Hugh e Cléo foram terminar a noite numa boate. Então, abraçados, Demi e Joseph se dirigiram ao apartamento dele, situado numa ala independente da mansão.
— Gostou do jantar? — ele perguntou, dando-lhe um beijo nos cabelos.
Não. Tinha detestado. Na hora do café, havia tomado sua decisão. Seu romance com Joseph ia terminar. Quanto mais prolongasse aquele relacionamento, pior seria o momento da despedida. Aquela seria sua última noite com ele. Então, que fosse uma noite inesquecível. Pretendia fazer amor com seu corpo... e com seu coração.
— Hã... Gostei, sim.
— O que achou dos meus pais?
— Eles são maravilhosos.
— E Cléo?
— Bem, eu diria que ela está melhorando...
— Eu acho que aquela mal-humorada da minha irmã está começando a gostar de você. Tenho certeza disso. O rosto de Cléo é o espelho de sua alma. Vocês duas ainda vão ser grandes amigas, acredite em mim.
Não. Aquilo não ia acontecer. Porque com certeza nunca mais a veria de novo. Na manhã do dia seguinte, toda a farsa chegaria ao fim. E ela voltaria a ser apenas Demi, a publicitária de sucesso, a profissional respeitada e conhecida.
Amanhã, somente. Não agora.
Então, entrando no luxuoso apartamento de Joseph, tirou rapidamente o vestido e tratou de fazer daquela noite a melhor e mais quente de sua toda vida.
 
 
Michele acordou com a estranha sensação de estar sozinha na cama. Estava coberta com uma manta, que certamente havia puxado durante a noite. Ou talvez o próprio Joseph houvesse feito aquilo para ela.
Olhou para a mesinha-de-cabeceira. O relógio lhe dizia que eram seis da manhã. O dia começava a amanhecer e os primeiros raios de sol entravam pelas frestas da janela.
Levantou a cabeça... e aí o viu. Sentado numa poltrona, usando um robe de seda, uma xícara de café nas mãos.
— Joseph? O que aconteceu? Perdeu o sono?
— Eu sempre perco o sono. Nunca lhe disse isso?
Havia uma certa agressividade na voz dele. Aquilo era inegável. Completamente desperta agora, Demi recostou-se na cabeceira da cama.
— A... aconteceu alguma coisa?
— Não. O que poderia ter acontecido?
— Não faço idéia. Mas que aconteceu, é claro que aconteceu. Por que não volta para a cama e me conta o que está havendo?
— Durma, Demi. Ainda é muito cedo.
— Mas...
— Pelo amor de Deus, volte a dormir e me deixe em paz!
Embora magoada com aquela súbita explosão, era evidente que Demi não podia fazer o que lhe fora mandado.
Que mulher nesse mundo faria?
Enrolando-se na manta, ela levantou-se e aproximou-se dele. Havia um brilho estranho em seu olhar, algo que só tinha visto uma vez, quando fora visitá-lo no hospital, tanto tempo atrás.
Por incrível que pudesse parecer, era como se ele estivesse mais assustado agora do que naquele dia.
Ele sentou-se numa cadeira a seu lado.
— O que está acontecendo, Joseph?
Ele deu um suspiro cheio de desânimo.
— O que está acontecendo é algo que eu não conseguiria explicar nem que eu vivesse mil anos. Vamos dizer apenas que eu pensei que as coisas pudessem mudar, mas acabei de perceber que não podem.
Demi não tinha a mínima idéia do que ele estava falando.
— Eu... acho que não estou entendendo, Joseph. Você... poderia ser mais claro?
Ele se levantou e foi andando até a janela.
— Eu... estou me sentindo um pouco inseguro.
Joseph? Inseguro? E desde quando um homem como ele conhecia aquele tipo de sentimento? Então, um pensamento horrível passou-lhe pela cabeça. Será que ele estava doente?
Ela também se levantou.
— Eu... eu gostaria que você falasse a esse respeito comigo. Estou a seu lado, sempre pronta a ajudá-lo no que for.
Ele se virou para ela lentamente.
— Posso lhe fazer uma pergunta?
— Claro. Pergunte o que quiser.
— Você ainda sente alguma coisa por Wilmer?
Se ela sentia alguma coisa por Wilmer? Por Deus, será que Joseph ficara maluco de pedra? Ela nem se lembrara mais do rosto de seu ex-noivo. Todos os homens do mundo empalideciam quando comparados ao playboy milionário que estava agora à sua frente. Depois das noites passadas a seu lado, tinha cabimento lembrar-se daquele sujeito sem graça e mediano que estivera em sua vida por dez longos anos? Talvez as garrafas de vinho que Joseph esvaziara na noite anterior tivessem derretido seus miolos.
— Não. Nada. Nada mesmo. Por quê?
— Tem... certeza?
— Absoluta. Mas olhe, Joseph, eu realmente não estou entendendo onde quer chegar e...
— Graças à Deus!
— Joseph! Por favor, o que deu em você?
Ele parecia aliviado.
— É que eu fiquei apavorado... pensando que talvez você tivesse me amado com tanto carinho e abandono... imaginando que estivesse com Wilmer, não comigo... E eu queria tudo aquilo para mim!
Será que ela ouvira direito? Joseph Jonas, o famoso playboy, sentindo ciúme de um homem insignificante como seu ex-noivo? Não era possível!
— Mas é claro que foi tudo para você, Joseph! Será que não percebeu, seu bobo? Será que é tão cego, que não vê quando uma mulher se apaixona por você?
Ele não teria ficado mais surpreso, se tivesse sido esbofeteado. Tendo dito o imperdoável, ela virou as costas para que ele não visse o brilho de desespero em seus olhos.
— Eu... sinto muito. Não quis dizer isso. Também não queria ter me apaixonado. Eu não queria mesmo. Mas... aconteceu.
Ficou tensa ao sentir a presença dele atrás dela. Então, Joseph colocou as mãos em seus ombros e fez com que se virasse novamente.
— Você tem certeza de que o que sente por mim... é mesmo amor?
Os olhos dela se encheram de lágrimas.
— Ora, e o que mais poderia ser?
— Uma porção de coisas...
Ela esquivou-se dele.
— Por acaso está dizendo que não acredita em mim?
— O que eu estou dizendo é que talvez você esteja enganada. As pessoas podem pensar que estão apaixonadas, mas às vezes o sentimento não é verdadeiro, embora pareça ser no momento.
Ela se atirou na poltrona.
— Ora, e que diferença faz se eu o amo ou deixo de amar? Você não retribui o sentimento mesmo!
— Ah, retribuo sim.
Agora, quem ficou de boca aberta foi ela.
— O quê?
— Eu te amo, Demi. E quero me casar com você.
O choque inicial deu lugar à raiva e ao ressentimento.
— Não seja ridículo, Joseph. Você não me ama coisa nenhuma!
— Está vendo? E difícil acreditar numa coisa dessas. A ironia disso tudo, Demi, é que eu acho que você ainda está apaixonada por Wilmer e você acha que eu ainda estou apaixonado pelos meus dias de playboy. Que coisa incrível, não é?
Demi não respondeu. Estava muito surpresa para fazê-lo.
— Bem — continuou ele —, eu gostaria de lhe fazer uma proposta.
— Proposta? Você vai me pedir em casamento de novo?
— Não. Ainda não. Não sou tão idiota assim. Mas gostaria de lhe pedir para continuarmos nosso namoro, até que possamos descobrir a verdade.
— A respeito do que sentimos um pelo outro? Ele fez que sim com a cabeça.
— Exatamente. Então, quando tivermos certeza do nosso amor, eu farei realmente o pedido.
Será que Joseph realmente a amava? Um brilho de esperança surgiu em seus olhos.
— Gostei da proposta. Acho que vou aceitá-la. Ele deu um sorriso.
— Você é uma garota inteligente. Sabia que ia tomar essa decisão.
Ato contínuo, abraçou-a com força e levou-a de volta para a cama.
 
 
Continua... meninas a história esta acabandoooo buaaaaaaa

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

CAPÍTULO IX

A mansão dos Jonas ficava situada no melhor bairro da cidade, uma imponente construção de pedra cercada por um jardim enorme, que mais parecia um bosque. Nos fundos, além da piscina e da quadra de tênis, havia também um campo de golfe onde o Sr. Jonas treinava nos finais de semana. Era a casa mais chique que Demi já entrara na vida.
Joseph dirigiu-se diretamente pra a garagem coberta com vagas para dez carros e estacionou entre um BMW azul e um Mazda vermelho.
— O carro de Cléo? — perguntou Demi, apontando para um Aston Martin prateado mais adiante. A porta estava toda amassada.
— Exatamente. Eu nunca deixo minha Ferrari perto dele. Aquela garota dirige como uma lunática!
Ela deu um sorriso.
— Conheço alguém que é igualzinho.
— Ora, Demi, quer parar de implicar comigo? Não percebeu o quanto tenho mudado ultimamente? Não recebi uma única multa por excesso de velocidade nesse mês!
Ela abriu a porta e desceu do carro.
— Meus parabéns!
Foram caminhando de mãos dadas até a entrada principal da mansão. O desejo que ambos haviam sentido no apartamento de Demi não fora satisfeito com o rápido ato sexual acontecido ali mesmo, na sala. Ao contrário. Só servira para deixá-los ainda mais acesos e famintos.
Joseph percebeu que não estava mais conseguindo se controlar. E, antes de abrir a imponente porta de carvalho da frente, tomou Demi nos braços e a beijou com todo o ardor que havia dentro dele.
Foi uma experiência fantástica. Demi agarrou-se a ele com mais força, colocando o corpo contra seu peito forte e musculoso, sentindo coisas que nem sabia que existia. E ela que pensava que já tinha experimentado as sensações mais gloriosas do mundo ao lado de Joseph! Que nada. Pelo visto, seus dias de aprendizado estavam apenas começando. Ele a beijava com uma fúria animal que ia muito além de um simples desejo físico, atiçando-lhe os sentidos de uma forma inacreditável. Eram duas pessoas, mas naquele instante, pela estranha magia do amor, seus corpos haviam se fundido num só.
— Posso saber o que está havendo por aqui?
Demi teria fechado os olhos ao ouvir o som daquela voz... se eles já não estivessem daquela maneira. Perversamente, porém, quis o destino que tivesse de abri-los.
Cléo estava em frente à porta aberta, as mãos na cintura, uma expressão de poucos amigos no rosto. E, quando falou, o fez com a voz gelada:
— Eu sinto muito interromper essa comovente cena de amor, meu irmãozinho querido, mas mamãe me mandou verificar por que motivo vocês estavam demorando tanto. Devo lhe dizer que ainda vão demorar mais um pouquinho?
Demi quis que o chão se abrisse e que pudesse engoli-la. Nunca havia sentido tanta vergonha na vida! Joseph, porém, reagiu de forma bem diferente.
— Não seja hipócrita, Cléo. Eu mesmo já peguei você em situações bem mais constrangedoras. — Virou-se para Demi e lhe deu um beijo no rosto. — Não ligue para ela, doçura. Minha querida irmãzinha adora se meter onde não é chamada. Bem, vamos entrar?
Cléo, porém, impediu sua passagem.
— Não! Demi não pode ver nossos pais desse jeito!
— Como não? — reclamou Joseph. — Ela está maravilhosa!
— Pode ser. Mas, e este batom todo borrado? Vai dar muito na vista!
Demi levou a mão à boca, sentindo-se ainda mais envergonhada. Estranho como ser pega em flagrante causava a mesma sensação aos trinta ou aos dezessete anos. Joseph estudou o rosto dela.
— Nossa, é mesmo. Eu nem tinha reparado. E agora?
— Eu posso dar um jeito nisso — a própria Cléo ofereceu, a voz cheia de impaciência. — Um bom creme de limpeza e alguns retoques na maquiagem darão conta do recado. Vamos, Demi, venha comigo. Quanto a você, Joseph, devo dizer que também está com a boca um pouco rosada. Dê uma passadinha no toalete antes de entrar na sala, depois trate de ir salvar o pobre Hugh. O coitado está nervoso até dizer chega!
Momentos depois, Demi acompanhava Cléo através de um corredor lateral que levava aos quartos.
— Quem é o pobre Hugh?
— Meu namorado. O homem com o qual eu estava pensando em me casar. Só que agora não estou assim tão certa depois do triste espetáculo que ele está dando essa noite.
— Triste espetáculo?
— Sim. Não há nada que me desanime mais do que um namorado que se intimide na frente dos meus pais. Ele começou a suar frio só porque minha mãe fez uma pergunta a respeito de seu trabalho. — Ela abriu uma porta. — Chegamos.
O quarto de Cléo Jonas era completamente diferente do que Demi tinha imaginado. Bem, ele era enorme. Seu apartamento inteiro cabia ali dentro. Tirando o tamanho, porém, imaginação e realidade eram estranhas. Em vez de luxo e sofisticação, laços de fitas cor-de-rosa e cortinas de florzinhas. Realmente, uma grande surpresa.
— Já sei o que está pensando — disse a dona do quarto, percebendo o espanto no rosto de Demi. — É tudo horrível, não é? Minha mãe o decorou pessoalmente quando eu tinha dez anos de idade. Eu estava de férias, num acampamento de verão com o pessoal do colégio e, quando voltei, levei o maior susto da minha vida. Acho que fiquei em estado de choque. Bem, é claro que nunca tive coragem de lhe contar a verdade. Ela me disse que esse era o tipo de quarto que ela sempre sonhara em ter quando criança, mas nunca pudera ter. Então eu a abracei e disse que tinha adorado. Hoje em dia, não troco essa mobília por nada desse mundo. Esse lugar fala da minha infância, que foi um verdadeiro conto de fadas.
Demi mal conseguia acreditar no que ouvia. Nunca imaginava que a tão esnobe Cléo pudesse assumir uma expressão tão doce ao falar da mãe e de sua própria vida.
A doçura, porém, teve curta duração. Percebendo que era olhada de uma maneira meio estranha, seu rosto endureceu de novo.
— Bem, já que estamos aqui sozinhas, gostaria de lhe falar uma coisa.
Demi levantou uma sobrancelha, pressentindo problemas graves.
— Sim?
— Joseph me falou de maneira clara e objetiva para que eu não me metesse na vida de vocês de jeito nenhum, mas mesmo assim gostaria de lhe dizer que, se machucar meu irmão, eu... eu...
— Machucar Joseph? — interrompeu Demi surpresa com o aviso e mais do que um pouco brava. — Será que você ouviu bem o que falou? Não sei não, mas me parece que está invertendo a situação. Joseph é o playboy da história. Não eu. Se alguém for dar o fora em alguém, esse alguém é ele!
Cléo fez uma careta.
— Duvido muito.
— Como assim, você duvida muito?
— Nada, nada. Esqueça o que eu lhe disse, está bem? — Ela abriu a porta do enorme banheiro e começou a escolher os cremes necessários. — Acho que já abri a boca mais do que devia.
Demi a seguiu.
— Está coberta de razão. Você falou demais. O meu relacionamento com seu irmão não diz respeito a mais ninguém, como ele mesmo tão bem salientou. Mas já que o assunto foi iniciado, também tenho uma perguntinha a lhe fazer. Por que não gosta de mim? Não adianta disfarçar, porque eu sei que não gosta mesmo. Desde a época que eu era namorada de Wilmer.
Cléo virou-se para ela um pouco assustada, com um vidro de creme nas mãos.
— Você quer mesmo saber?
— Sim, eu quero mesmo saber. Cléo recostou-se na pia de mármore.
— Bem, você sempre me pareceu uma moça muito segura de si, muito confiante no próprio talento... Aparecia nas festas de nariz meio empinado, sempre vestida de qualquer jeito... Mas agora parece que as coisas mudaram, não é? Reconheço perfeitamente um Valentino quando vejo um. Isso sem mencionar os cabelos e a maquiagem... Ao que parece, seu plano de ação está mudando, não é?
— Meu... plano de ação?
— Ora, não tente bancar a inocente comigo. Você é uma mulher muito inteligente. Sabe do que estou falando. Decidiu fisgar Joseph, não é? Só não consegui descobrir se está fazendo isso por pura ambição, por causa do nosso dinheiro, ou apenas para se vingar de seu querido ex-noivo Wilmer, porque ele a trocou por Danielle Baker.
O queixo de Demi caiu. Jamais havia esperado ouvir tanto desaforo de uma só vez.
— Pelo amor de Deus, o que você ganha me insultando desse jeito? Fique sabendo que, quando eu me casar, vai ser apenas por amor a meu futuro marido e não por vingança ou por interesse. Garotas ricas e fúteis como você podem se casar por esse tipo de motivo, mas eu não! Olhe, pode esquecer essa droga de maquiagem. Estou dando o fora daqui agora mesmo!
O pânico fez com que todos os traços de animosidade desaparecessem do rosto de Cléo.
— Não, não vá embora, por favor. Joseph vai me matar!
— Então você acabou de se meter num enorme problema porque, se eu não sair daqui agora mesmo, quem vai matá-la sou eu! Agora, se quiser que eu fique, sugiro que se desculpe com profusão e prometa que será muito, muito gentil até o final da noite!
Os olhos azuis de Cléo mostraram uma porção de emoções indefinidas, antes de finalmente aceitar a derrota.
— Você tem razão. Eu... sinto muito. Falei uma porção de bobagens. Mas é que...
— Continue.
— Não, não é nada. Bem, vamos arrumar logo este batom borrado antes que as pessoas comecem a estranhar a nossa ausência. — Cléo apanhou o creme e um pedaço de algodão e começou a fazer o serviço. — Não sei o que Joseph tem na cabeça para lhe dar um beijo desses, momentos antes de apresentá-la a nossos pais.
— Bem, tenha certeza de que o amor não entra nessa história. Como vê, você está se preocupando a troco de nada. Sinceramente, pensei que conhecesse melhor seu irmãozinho. Não importa o que pense a meu respeito, o casamento não está nos planos de Joseph. Tudo o que ele quer de mim é o que você viu agora há pouco. Como eu já lhe disse, se alguém sair machucado dessa história maluca, esse alguém será eu, e não Joseph.
Cléo a encarou com certa desconfiança.
— Por acaso está dizendo que... gosta mesmo dele?
— Mais do que devia. Mas por favor, fique de boca fechada.
— Mas... por que? Por que não lhe diz isso? Demi caiu na risada.
— Ora, Cléo, porque amor é a última coisa que Joseph quer na vida. Será que nunca se deu conta do fato? Bem, vamos andar logo com isso, antes que alguém apareça por aqui.
 
Continua...
Amores não posso fazer uma maratona, porque a fic já esta acabando, e estou adaptando a outra história ;)
Comentem !!!!